Por Daniela Moreira
Ela está na lista das 10 tecnologias mais importantes para o Gartner em 2007, no centro do discurso dos fornecedores de aplicações e nos planos dos principais gestores de tecnolgoa do mundo corporativo. SOA, sigla em inglês para arquitetura orientada a serviços, é o que se conhece por buzzword - a palavra da moda - no mundo da tecnologia.
Na pratica, o que está por trás desta sigla é uma nova abordagem de software dentro das companhias. Na arquitetura orientada a serviços, o objetivo principal é atender necessidades de negócios, agrupando funções em “caixas” ou “módulos” que podem ser copiados e adaptados no futuro para outros fins e integrando, de forma transparente ao usuário, aplicações diversas da empresa, estejam elas espalhadas por departamentos (como um software de leilões usado pela área de compras) ou presentes em toda a organização (como um sistema de gestão empresarial). Os ganhos estão na flexibilidade e na economia com o desenvolvimento e na independência que a área de negócios ganha em relação ao departamento de tecnologia.
SOA, como indica o próprio nome, é uma arquitetura. Logo, envolve alguns elementos. Em uma analogia, é como se dentro de uma sala houvesse especialistas de todo mundo em culinária, e do lado de fora, o dono de um restaurante interessado em montar um cardápio misto.
No mundo da arquitetura de software tradicional, o dono do restaurante teria que ir a cada um desses especialistas - as aplicações isoladas - para pedir as sugestões de pratos, em seu idioma. Na melhor das hipóteses - supondo algum grau de integração - ele poderia pedir ao especialista em culinária italiana uma sugestão de prato que combinasse elementos da cozinha francesa. O chef italiano, por meio de um intérprete, conversaria então com o chef francês para ouvir suas sugestões, e devolveria então uma sugestão de prato ao dono do restaurante.
Trazendo isso para o mundo SOA, nosso dono do restaurante recorria a um único intérprete, capaz de falar o idioma de todos os chefs presentes na sala, e diria a ele: quero um prato franco-italiano. O intérprete responderia com a sugestão de prato pronta, e mais, se o dono do restaurante quisesse no futuro um prato ítalo-germânico, o intérprete aproveitaria o modelo de interação utilizado no primeiro caso adaptando-o ao segundo, para trazer uma resposta similar. Complicado?
Dentro da arquitetura SOA, esse intérprete, que na linguagem tecnológica é chamado de middleware, funciona como um orquestrador dos serviços. Nele estarão determinadas os comandos que serão enviados a cada aplicação, em que ordem, e os outputs que serão retirados de cada uma delas para que os dados e recursos distribuídos em cada aplicação voltem para o usuário como um único serviço.
Para desempenhar esta função de orquestrador, algumas empresas oferecem adaptadores universais, os chamados Enterprise Service Bus (ESB), que já vêm preparados para interagir com algumas aplicações comum dentro de uma empresa, como os bancos de dados, ERP, BI e CRM. “O ESB funciona como uma cola para as aplicações. É uma barra de serviços na qual os softwares vão sendo plugados, sem causar traumas para a empresa”, explica Luiz Cláudio Menezes, diretor geral da Progress Software Brasil.
Outro componente da arquitetura orientada a serviços é o uso de padrões de web services - entre eles Simple Object Access Protocol (SOAP) e Web Services Description Language (WSDL) -, que permitem a comunicação universal entre diferentes sistemas. “A interação entre arquiteturas distintas é fundamental para o SOA”, define Waldir Arevolo, analista do Gartner no Brasil. Se enxergarmos o middleware como maestro destes serviços, os web services são a batuta. Enquanto o middleware é a própria infra-estrutura, os web services são os condutores.
Por fim, na avaliação de Silvio Passos, diretor de soluções da Stefanini, os portais aparecem como um elemento importante - embora não obrigatório - da arquitetura, mostrando-se como a interface ideal - porque é altamente customizável - para a solicitação dos serviços pelos usuários. “É bom que exista, porque funciona como uma interface única e maleável”, opina o executivo.
A combinação dessas características oferece às empresas algumas vantagens, como uma visão mais abrangente dos seus processos de negócio, uma agilidade e uma flexibilidade maiores para fazer mudanças e adaptações aos sistemas de tecnologia que suportam as atividades da companhia - graças à modularidade e à granularidade dos serviços- e a capacidade de reaproveitar os serviços criados para uma área a outras.
“Isto é fundamental, porque não só reduz os custos de administração - já que você não precisa mais de um especialista para cada aplicação que compõe a sua infra-estrutura -, mas também aumenta a capacidade de inovação. Pesquisas mostram que hoje as empresas investem apenas de 5% a 15% da sua verba de tecnologia em novas funcionalidades. Com SOA, essa verba pode ser melhor aproveitada”, explica Passos.
Mas quando o SOA deixará de ser um buzzword para se tornar uma realidade nas empresas? Há apenas um consenso a respeito desta virada: ela não será brusca, mas sim gradual.
Embora o instituto de pesquisa Forrester diga que 67% das empresas com 40 mil ou mais funcionários estejam implementando SOA neste ano, os analistas apontam que as companhias apostarão primeiro em projetos departamentais, restritos a determinados públicos dentro da empresa.
“Na hora que as empresas tiverem que revisitar o seu legado, se abrirá uma oportunidade para apostar na nova arquitetura. É a hora de mexer”, defende Azeredo.
"Como os benefícios do SOA são sentidos no longo prazo, não há uma percepção imediata de retorno, por isso o investimento não deve ser amplo. À medida que os códigos dos módulos de serviço comecem ser reaproveitados é que a empresa vai sentir o efeito positivo”, pondera Passos.
Já para os novos projetos, a arquitetura deve ser utilizada como paradigma, abrindo espaço para a maior penetração do SOA. Segundo o Gartner, em 2008 a arquitetura servirá como base para 80% dos novos desenvolvimentos e permitirá às organizações aumentar em 100% a reutilização de códigos.
Para Passos, a popularização do SOA deve ter um impacto direto na indústria de aplicações. “As empresas deixarão de vender produtos fechados e passarão a vender pacotes de serviços, que serão integrados à arquitetura”, prevê.
Na mesma linha, o Gartner prevê que o SOA vai operar uma transição do desenvolvimento focado em funcionalidades para o desenvolvimento voltado a funções de negócios, transformando a base instalada de software de um inibidor de mudanças para um facilitador.
“SOA nada mais é que um reflexo de uma mudança de cultura que permeia toda a empresa. As companhias cada vez mais enxergam as áreas internas como prestadores de serviços. O departamento de tecnologia já é visto como prestador de serviço. Nada mais natural do que os sistemas passarem a ser vistos como prestadores de serviços também”, conclui.
Publicado originalmente no endereço http://idgnow.uol.com.br
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